Na Aula Inaugural da Coppe, ex-ministro Renato Janine Ribeiro defende a ética como a preocupação com a justiça social

A Coppe/UFRJ promoveu nesta segunda-feira, 21 de março, sua cerimônia conjunta de Recepção aos Novos Alunos e Aula Inaugural 2022. Durante a aula intitulada “Ética no mundo atual” o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e ex-ministro da Educação, professor Renato Janine Ribeiro defendeu a ética como o mundo dos direitos universais, do comportamento voltado ao bem comum, em vez do medo das punições legais ou divinas, e da luta contra as desigualdades sociais.

O ex-ministro destacou que a ética permite a autonomia de escolher a melhor maneira de agir, mas exige reflexão, e envolve a reciprocidade. “Ao reivindicarmos direitos a nós, reconhecemos esse direito a todos os outros. Temos autonomia para buscar o que é certo, mas pela reciprocidade, devemos entender que o que é certo para mim, também deve ser para o outro. Reconheço ao outro a mesma liberdade de escolha que reivindico a mim. Reconhecer ao outro o mesmo direito de seguir sua orientação sexual, escolher seu parceiro amoroso, sua religião. Tem que ser a todos, sem duplo padrão, de avocar um direito para si e não reconhecê-lo para os demais. Algo muito comum em uma sociedade como a nossa, fundada em muitas discriminações. Privilégios são particulares, direitos são universais. O mundo da ética é um mundo de direitos, não é um mundo de privilégios”.

O professor salientou que, a partir do século XVII, ocorre o que alguns estudiosos chamam de declínio do inferno. “Durante muito tempo, a questão ética esteve ligada ao medo do castigo divino. Essa forma de pensar, ainda persiste. Em 1985, houve eleição para prefeito em São Paulo e o então senador Fernando Henrique Cardoso disputava com o ex-presidente Jânio Quadros. Ao ser questionado pelo jornalista Boris Casoy se ele acreditava em Deus, FHC mostrou visível embaraço e muita gente diz que ele perdeu a eleição por causa disso. Ou seja, para parte da população, uma pessoa que não crê em Deus soa imoral, sem limites. Ou que a pessoa só faz o bem se tiver medo do inferno. Essas pessoas não são propriamente éticas, elas são medrosas”.

“Há uma percepção de que para ser ético bastaria você não fazer nada de errado. Nada errado pela lei, nada errado pelo código de ética. Se eu não violar nenhum princípio legal, isso quer dizer que eu sou inocente, não quer dizer que eu seja uma pessoa ética. Pode ser que eu tenha respeitado a lei, somente pelo medo da punição. A meu ver, isso é insuficiente”, avaliou o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

“Lembram do ditado que alguns falam: ética é o que você faz quando ninguém está olhando? Para você ser ético, você tem que se conduzir, independentemente do olhar do outro. Independentemente do que vão pensar de você. Independentemente da perspectiva de haver ou não um castigo. Para ser ético, você tem que agir bem por considerar que é certa esta ação”, afirmou o professor da USP.

Segundo o professor Renato Janine Ribeiro, as leis existem para colocar ordem na sociedade. “O Código Penal tem artigos tipificados, até vender bilhete de loteria de um estado em outro. São, pelo menos, 250 crimes tipificados, além de leis extravagantes, leis que estabelecem penas fora dos códigos. Você pode respeitar a lei por medo da pena ou por considerá-la justa.

Na lei não importa a motivação da pessoa, na ética, isso é o que mais importa. Na ética, a motivação é mais importante que o ato concreto, mas isso vem refletindo na lei. Assédio sexual é um exemplo. Porto Alegre votou uma lei que permitia cassar alvará de estabelecimento por assédio sexual. Isso reflete a influência da ética sobre a lei. Como também ocorre na criminalização do racismo”.

De acordo com o professor, uma das características da lei penal é o não. “Se eu não violar principio legal, isso significa que sou inocente, não que sou uma pessoa ética. Na ética do sim, não basta se abster de fazer a coisa errada. Tem que fazer a coisa certa. Mas, o bem é um conceito relacional, existe nas relações sociais. Em um país como o nosso, devemos pensar na dimensão da miséria, da injustiça social, da discriminação. Não vejo como ser ético sem uma preocupação com a justiça social. Devemos agir de modo a promover a igualdade de oportunidades. Caso toleremos a fome, a desigualdade, estaremos compactuando com uma grande falta de ética”.

“Quando fui ministro da Educação, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), era Chico Soares, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Uma vez, Chico me disse que pelo nível socioeconômico do aluno, era possível prever a nota do candidato. Existem sete níveis socioeconômicos listados pelo Inep. No nível mais elevado, a média de pontuação dos alunos era 610. No nível mais pobre, era 420. Isso não tem a ver com mérito.Um aluno pobre com 500 pontos, está quase 100 pontos acima da sua média. Um aluno rico com 500 pontos, está mais de 100 pontos abaixo da sua média. Logo, dois alunos com a mesma pontuação e que não têm o mesmo mérito”.

O ex-ministro encerrou a Aula Inaugural, falando de maneira mais específica para alunos de programas de pós-graduação em Engenharia. “As suas conquistas costumam trazer ganhos de produtividade, o que é muito importante para o país. Basta o Brasil começar a progredir, começa a faltar engenheiros. O ministro da Economia está errado ao dizer que se há engenheiros dirigindo Uber, é porque estamos formando engenheiros demais. Isso é um sinal de uma economia fraca”.

“Quando o Brasil retomar o caminho do desenvolvimento, o PIB voltar a crescer, precisaremos pensar em quem está ganhando ou perdendo com os ganhos de produtividade, em como é a apropriação desigual dos ganhos de conhecimento. Termino essa palestra exortando vocês a verem o conteúdo ético do que farão. Que vocês sejam felizes e contribuam para um país mais justo e feliz”, finalizou o presidente da SBPC, professor Renato Janine Ribeiro.

Boas vindas aos novos alunos


O diretor da Coppe, professor Romildo Toledo, deu as boas vindas aos cerca de 400 novos alunos da instituição, no primeiro dia de aulas presencias para os mais de 2400 alunos da instituição, desde o começo da pandemia. “Estamos muito felizes de estar aqui hoje para dar início ao ano letivo de 2022, espero que transcorra todo de forma presencial e vocês possam desfrutar muito a instituição e o convívio no ambiente universitário. É muito complicado fazer toda uma pós-graduação de forma virtual, isso faz diferença, então estamos felizes de começarmos o período presencialmente”, destacou o professor Romildo. Na avaliação do decano do Centro de Tecnologia, professor Walter Suemitsu, os dois últimos anos foram muito difíceis para a universidade., "Tivemos que nos adaptar ao ensino virtual, adaptar trabalhos que deveriam ser feitos em laboratório. Foi um desafio muito grande e a Coppe conseguiu vencê-lo mantendo a qualidade". "A Coppe tem muita importância não apenas em nível da UFRJ, mas em nível nacional. O seu modelo de ensino foi adotado em várias universidades do país. Vocês estão ingressando em uma unidade de excelência e têm a responsabilidade de manter este nível", afirmou professor Suemitsu.

Em seguida, a diretora de Assuntos Acadêmicos da Coppe, professora Lavínia Borges mostrou aos novos egressos a homepage da Coppe e o site da Diretoria de Assuntos Acadêmicos (DAAC), e também apresentou a equipe responsável pela área acadêmica da instituição. Segundo informações da DAAC, a Coppe conta, atualmente, com 347 professores e 2408 alunos, 1174 cursando mestrado e 1234, o doutorado, e 125 pesquisadores de pós-doutorado.

 “De acordo com o banco de dados SciVal, entre 2015 e 2021, os professores da Coppe publicaram 6067 trabalhos em periódicos indexados. Apenas nos últimos dois anos, durante a pandemia, foram 1955 publicações. Ou seja, trabalhamos nestes dois anos e bastante, tanto em pesquisa como em ensino”, relatou professora Lavínia.

“Neste período de ensino remoto emergencial, oferecemos 1218 disciplinas com crédito. Foram realizadas 561 defesas de trabalhos acadêmicos, sendo 336 dissertações de mestrado e 225 teses de doutorado. Parece muito, mas em dois anos, fizemos o que costumávamos fazer em um. O impacto da pandemia, para a gente, foi grande, também pelo afastamento da infraestrutura laboratorial e computacional”, analisou.

O diretor-adjunto de Assuntos Acadêmicos, professor Marcello Campos, mostrou, com maior detalhe, o site da diretoria de assuntos acadêmicos, onde encontrar normas e regulamentações, e explicou a hierarquia da qual emanam essas normas acadêmicas, e aconselhou os recém-egressos a lerem as Informações aos novos alunos.


“Peço atenção ao preenchimento dos formulários de pré-defesa e pós-defesa. Os alunos costumam questionar o porquê dessa burocracia, mas é uma boa burocracia que defende os direitos dos alunos e o rito acadêmico correto”, avaliou professor Marcello.

Coppe cada vez mais acolhedora

A diretora de Gestão de Pessoas, Vanda Borges, apresentou o Núcleo de Atendimento Psicossocial Acolhe Coppe, criado em julho de 2019, para atender uma antiga demanda do corpo social da instituição, e destacou que a cada ano, o núcleo vem ampliando a oferta de serviços e se reinventando para o bem estar físico e emocional do corpo discente e força de trabalho.

“O equilíbrio emocional envolve harmonizar sensações como tristeza, raiva, frustração. Saber lidar com esses sentimentos de forma saudável e harmonizada com as obrigações acadêmicas e laborais não é fácil para ninguém. No entanto, é fundamental perceber quando ocorre o desequilíbrio e ele impacta na relação interpessoal. Esse é o foco do Acolhe Coppe: atenção, cuidado e integração. Alicerçado na metodologia dialógica, o acolhimento é ofertado a partir de uma escuta qualificada e isenta”, explicou Vanda.

O professor Romildo Toledo encerrou a cerimônia, prestando homenagem ao ex-diretor da Coppe, professor Luiz Pinguelli Rosa,falecido no dia 3 de março.  "Um grande líder de nossa instituição, um professor que ajudou muito, a exemplo de nosso fundador, a implementação e consolidação desse modelo de ensino e pesquisa", destacou professor Romildo, antes dos merecidos aplausos, de todos os presentes no auditório, ao saudoso professor Pinguelli. 

Compuseram a mesa da cerimônia o diretor da Coppe, professor Romildo Toledo; o decano do Centro de Tecnologia (CT), professor Walter Suemitsu; a diretora de Assuntos Acadêmicos, professora Lavinia Borges; o diretor-adjunto de Assuntos Acadêmicos, professor Marcello Campos; o diretor de Planejamento, Administração e Desenvolvimento Institucional, professor Ericksson Almendra; a diretora de Gestão de Pessoas, Vanda Borges; a diretora de Tecnologia e Inovação, professora Angela Uller; a diretora de Empreendedorismo, professora Marysilvia Ferreira; o diretor-superintendente da Fundação Coppetec, professor Antonio MacDowell de Figueiredo; e o diretor-executivo da Fundação Coppetec, Fernando Peregrino.

 A Aula “Ética no mundo atual” e a Recepção aos Novos Alunos foram transmitidas pelo canal da Coppe no YouTube e estão disponíveis, na íntegra.

 

Fonte: Planeta Coppe