PD&I se faz com mais participação do setor privado, aponta presidente da Embrapii

Há dois anos à frente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), o acadêmico Jorge Guimarães tem reunido esforços para levar o Brasil a melhores posições no ranking da produção de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Para isso, ele defende a necessidade da iniciativa privada do país injetar um percentual maior dos seus recursos em ciência e tecnologia (C&T).

"Precisamos aumentar o percentual do PIB [Produto Interno Bruto] que é aplicado em ciência e mudar a lógica dos investimentos em PD&I, elevando a participação do setor privado", afirmou Guimarães. “Precisamos atrair a participação de empresas no percentual de investimentos brasileiros", salientou.

 

De acordo com ele, países como Israel, Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos e China, que integram o que batizou de “Liga da Ciência”, aplicam anualmente em ciência e tecnologia 2% ou mais do PIB e contam com 3 mil cientistas e engenheiros por milhão de habitantes. “Desse percentual aplicado em ciência, 70% ou mais são recursos que provêm de empresas privadas", acrescentou.

 

Enquanto isso, do lado brasileiro, foram aplicados 1,2% do PIB em ciência, em 2013. No mesmo período, existiam 700 cientistas e engenheiros por milhão de habitantes. "60% dos recursos direcionados a P&D eram públicos. Os dados são de um período em que a Petrobras participava ativamente desses 1,2% do PIB o que, com a crise, não acontece mais", observou Guimarães.

 

Para o presidente da Embrapii, os cursos de pós-graduação no Brasil continuam formando muitos profissionais, um sinal bastante positivo. Ainda assim, segundo ele, o país deveria triplicar o número de cientistas e engenheiros. O acadêmico também enxerga que o Brasil deveria aplicar, no mínimo, 2% em PD&I. Em números reais, isso equivaleria a um aporte adicional de US$ 24 bilhões por ano sobre o percentual aplicado hoje.

 

"Infelizmente, diante do cenário atual, eu perdi essa expectativa no curto prazo", lamentou Guimarães, que logo em seguida apontou um desafio mais próximo de solução: chamar a iniciativa privada a investir em PD&I. "Hoje o governo aplica 60% em PD&I e as empresas, 40%. Na Embrapii, nós atuamos para inverter essa lógica. Hoje, 42% dos recursos são da Embrapii e 58% da iniciativa privada", comentou.

 

Ciência e IDH

 

Guimarães apontou números que revelam o quanto o desenvolvimento da ciência está atrelado diretamente ao bem-estar social. Em 29º lugar no ranking mundial de Ciência e Tecnologia (C&T), aplicando 1,2% do PIB em C&T, o Brasil conta com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,744. Isso o coloca na 79º posição no mundo.

 

Enquanto isso, a Coreia do Sul, que investe 4,2% do PIB em C&T e é a segunda no ranking mundial da ciência, tem IDH de 0,891 e está em 15ª posição. "O milagre da Coreia do Sul está nos investimentos em ciência e educação. E nós estamos abandonados. Menos de 7% da população brasileira têm nível superior no Brasil. Como vamos mudar nosso Congresso com esse nível de formação?", questionou Guimarães.

 

Cooperação internacional

 

No que tange à cooperação internacional, o presidente da Embrapii avalia que a relação é quantitativamente desbalanceada e tecnicamente assimétrica, sendo mais prejudicial do que benéfica para o Brasil. "Fizemos cooperação com Alemanha, França e Estados Unidos, embora esta tenha sido muito individualizada. Mas se nós não tivéssemos feito o dever de casa, não teria adiantado nada", acrescentou Guimarães, ressaltando o bom exemplo dos estudos na área de zika vírus.

 

Ainda assim, o Brasil apresenta uma cooperação internacional entre esses países bastante tímida. Enquanto a média da América Latina está em 58%, o percentual de cooperação do Brasil está em 27,9%. "Estamos na lanterna", ressaltou Guimarães. "Isso mostra que o Brasil não está buscando estreitar a cooperação com os países vizinhos", apontou o presidente da Embrapii.

 

Para Jorge Guimarães, o país vem obtendo avanços na produtividade em pesquisa por conta do forte programa de pós-graduação, sendo, portanto, "um típico desenvolvimento doméstico". No entanto, na sua visão, é preciso que haja uma cooperação internacional quantitativamente balanceada e simétrica. "Sem isso, não será possível que o país alcance níveis de desenvolvimento adequados para fazer frente aos seus grandes desafios sociais e econômicos", concluiu.

 

Guimarães discursou durante a 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte (MG).

 

(Agência ABIPTI, com informações da NABC e SBPC)